Uma mulher de 31 anos e sua filha, de apenas dois anos, passaram a noite desta terça-feira (17) nas dependências da Prefeitura de Sorocaba (SP), após não conseguirem acolhimento em nenhum dos abrigos destinados a vítimas de violência doméstica.
Segundo o boletim de ocorrência, a mulher estava com a filha em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na noite de segunda-feira (16), quando começou a receber mensagens do companheiro exigindo saber sua localização. Minutos depois, o homem apareceu no local, tomou a criança dos braços da mãe e fugiu com ela em direção a uma área de mata.
A vítima conseguiu alcançar o agressor e resgatar a filha. No entanto, foi então alvo de ofensas e tentativa de agressão. Ela pediu socorro, sendo amparada por pessoas que estavam na UBS, que acionaram a Polícia Militar.
A mulher e a criança foram levadas à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), onde relatou um histórico de agressões em um relacionamento de três anos. Ela solicitou medidas protetivas de urgência e pediu abrigo para passar a noite em segurança com a filha.
No entanto, de acordo com o relato da vítima, não havia vagas disponíveis nos abrigos municipais. O Conselho Tutelar também foi acionado e tentou intermediar o acolhimento, sem sucesso.
Sem outra alternativa, mãe e filha foram levadas ao prédio da Prefeitura, onde passaram a noite acompanhadas por conselheiras tutelares. Na manhã seguinte, foram encaminhadas para um abrigo provisório.
“É muito difícil passar por um constrangimento desses. Passei a noite na prefeitura, um lugar muito gelado, com minha filha no colo, sem cobertor e sem blusa. Não havia alimentos. Eu tinha feito exame de sangue e só tinha comido algumas bolachas com leite e café. Fui me alimentar de verdade apenas às 7h da manhã, quando uma conselheira se ofereceu para pagar”, contou a mulher, que preferiu não se identificar.
Ela desabafou ainda sobre a frustração com a falta de apoio: “Criei coragem para denunciar, depois de tanto tempo vivendo essa situação, e esperava um suporte melhor. Foi uma decepção. Espero que outras mulheres não passem por isso. Foi muito constrangedor. Acabaram ligando para vários lugares tentando conseguir acolhimento, mas ninguém me deu uma resposta.”
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba informou que questionou o Centro de Integração da Mulher (CIM Mulher) — entidade responsável pelo acolhimento de vítimas — sobre a negativa de abrigo. A administração municipal também afirmou que uma fiscalização será realizada no local ainda nesta terça-feira.
Segundo a Prefeitura, o convênio com a entidade prevê 20 vagas, e não havia informação de que todas estivessem ocupadas. A gestão orienta que, em situações como essa, a moradora pode procurar diretamente a Secretaria da Cidadania, na Rua Santa Cruz, 116, no Centro, para acionar toda a rede de proteção disponível.
Ocorre que a Secretaria no horário da denúncia não funciona.