A sessão extraordinária da Câmara de Sorocaba, que deveria ser um espaço para discussões sérias e representativas da população, foi marcada por uma lamentável troca de declarações que beiram o sectarismo e a insensibilidade. De um lado, a Secretária de Cidadania publicou nas redes sociais: “Que nunca falte pólvora para Israel! Deus abençoe essa nação” — uma fala perigosa, belicosa, e completamente incompatível com o espírito que se espera de alguém à frente de uma pasta dedicada à dignidade humana. De outro, a vereadora Iara Bernardi (PT), ao reagir, encerrou sua crítica com a frase “Palestina Livre”, carregando o plenário com um simbolismo igualmente inflamado e controverso, especialmente após ela ter sido usada por um terrorista que assassinou dois funcionários da embaixada israelense nos EUA.
Ambas as falas — ainda que em campos ideológicos opostos — têm em comum a incapacidade de reconhecer a complexidade do conflito entre Israel e Palestina. Pior: revelam o quanto o debate político brasileiro ainda é raso, reducionista e, por vezes, oportunista. A secretária, ao exaltar “pólvora” e associar isso a uma bênção divina, flerta com a glorificação da guerra, algo absolutamente inaceitável em qualquer democracia madura. Já a vereadora, ao repetir uma frase que ganhou repercussão global após ser proferida por um assassino, e que o próprio premiê de Israel comparou à saudação nazista “Heil Hitler”, demonstrou falta de sensibilidade, de timing político e, acima de tudo, de responsabilidade institucional.
Não se trata aqui de escolher lados no conflito — trata-se de exigir que representantes públicos tenham postura humanizada, firme contra a violência, venha ela de onde vier. Enquanto civis morrem sob escombros ou em atentados, é inadmissível que agentes públicos tratem esse cenário com slogans de guerra ou palavras de ordem esvaziadas de empatia.
A frase “Palestina Livre” pode, sim, representar o desejo legítimo de autodeterminação de um povo — mas dita no calor de um crime recente, e sem contextualização, torna-se facilmente distorcida. Da mesma forma, enaltecer Israel com metáforas bélicas em um contexto de bombardeios e morte é, no mínimo, uma perversidade.
Ambas falas demonstram o quanto precisamos de líderes que não se escondam atrás de bandeiras ideológicas, mas que sejam capazes de defender a paz com coragem, empatia e profundidade. A população não precisa de representantes que inflamem ódios importados — precisa de vozes que condenem toda forma de terrorismo, toda forma de apartheid, toda forma de massacre.
O papel de um agente público é humanizar o debate, não transformá-lo em trincheira. Nesse episódio, tanto a secretária quanto a vereadora falharam com a cidade, com a política — e, acima de tudo, com a humanidade.