O prefeito afastado Rodrigo Manga voltou, mais uma vez, a tentar retornar ao cargo por meio do Judiciário. E, mais uma vez, teve seu pedido negado. Nesta terça-feira, às 16h50, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por decisão do ministro Sebastião Reis, rejeitou pela quarta vez o habeas corpus apresentado pela defesa. A tentativa frustrada ocorre em um momento especialmente sensível, às vésperas do recesso do Judiciário, que se inicia em 20 de dezembro e só termina no fim de janeiro, reduzindo drasticamente qualquer chance de reversão no curto prazo.
O ministro havia solicitado informações ao juiz federal da 3ª Região responsável pelo afastamento, justamente para formar convicção sobre o caso. Ainda assim, a resposta foi negativa — o que reforça a solidez das decisões já tomadas até aqui.
O que chama atenção, porém, não é apenas a sucessão de derrotas judiciais, mas a estratégia política e discursiva adotada pelo prefeito afastado. Em vez de enfrentar o mérito das acusações, explicar fatos, documentos ou esclarecer os pontos centrais que fundamentaram seu afastamento, Manga insiste em um único argumento: o de que seria vítima de perseguição.
Essa tática não é inédita na política brasileira. Pelo contrário, é bastante conhecida.
Quando as acusações são robustas e o conjunto probatório é consistente, a defesa raramente se concentra em explicar os fatos. O caminho mais comum passa a ser outro: atacar o processo, questionar o foro, levantar supostas nulidades, alegar motivações políticas e tentar deslocar o debate do conteúdo para a forma. Foi assim em casos emblemáticos da política nacional, como o do presidente Lula, cuja defesa, diante de provas amplamente debatidas — imóveis atribuídos à família, embarcações, registros, presentes oficiais e documentos — concentrou-se em discutir competência, instâncias e ritos processuais.
O paralelo não é jurídico, mas estratégico. A lógica se repete: quando o mérito é difícil de sustentar publicamente, constrói-se uma narrativa de vitimização. Não se responde “o que aconteceu”, mas “por que estariam me perseguindo”.
Essa postura levanta uma pergunta incômoda, porém necessária: atacar o processo em vez de explicar os fatos é uma arma recorrente de políticos acusados de corrupção?
A experiência recente do país indica que sim. O discurso da perseguição costuma funcionar como um escudo emocional, capaz de mobilizar apoiadores, confundir parte da opinião pública e ganhar tempo. Tempo, aliás, é um fator crucial agora, especialmente com a aproximação do recesso judicial.
Enquanto isso, o silêncio sobre o mérito permanece. Nenhuma explicação objetiva. Nenhuma resposta direta às acusações. Apenas a repetição de uma narrativa já conhecida do eleitor brasileiro.
E o Judiciário, ao menos até aqui, segue deixando claro: não basta gritar perseguição quando o processo exige respostas concretas.



