Sorocaba, 11 de julho de 2025 — Após a Câmara Municipal de Sorocaba arquivar o pedido de abertura de uma Comissão Processante contra o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), o ex-prefeito José Crespo recorreu à Justiça e ao Ministério Público, buscando a continuidade do processo que pede a cassação do atual chefe do Executivo. A ação foi protocolada e disponibilizada nas primeiras horas desta sexta-feira (11) no Diário da Justiça Eletrônico.
No novo pedido judicial, Crespo solicita o afastamento imediato de Rodrigo Manga do cargo de prefeito até a conclusão da ação, sob a justificativa de que a permanência dele poderia comprometer a lisura das investigações. Crespo defende que o vice-prefeito, Fernando Costa Neto, assuma o comando da cidade e realize a exoneração de parte dos secretários ligados diretamente a Manga, em especial os apontados em denúncias de má gestão e favorecimento político.
Investigado pela Polícia Federal
Rodrigo Manga é alvo de investigações da Polícia Federal em ao menos três frentes. A principal delas apura um esquema de desvio de recursos públicos da saúde municipal, envolvendo contratos emergenciais firmados durante a pandemia e mantidos, com aditivos sucessivos, mesmo após o período crítico da crise sanitária.
Segundo a Polícia Federal, as investigações indicam que o esquema movimentou recursos que superam R$ 20 milhões, beneficiando empresas ligadas a aliados políticos e familiares de integrantes da gestão. Parte desse dinheiro, segundo os autos, teria sido desviado para empresas de fachada, sem prestação de serviço efetiva.
Negociações eleitorais e favorecimento
Além disso, Manga é investigado por negociações suspeitas ocorridas antes das eleições municipais de 2020, com indícios de compra de apoio político e repasse irregular de verbas públicas a entidades e empresas em troca de apoio eleitoral. As provas reunidas incluem áudios, transferências bancárias e contratos suspeitos com Organizações Sociais (OSs) ligadas ao setor da saúde e educação.
Envolvimento da primeira-dama e operador financeiro
Outro ponto grave apontado nas investigações é o suposto envolvimento direto da primeira-dama Sirlange Maganhato em um esquema de lavagem de dinheiro. A Polícia Federal identificou que cerca de R$ 1 milhão foi movimentado para a conta da empresa da primeira-dama, valor que teria sido operado por Marcos Mott, amigo pessoal de Manga e identificado como o operador financeiro do esquema.
Mott teria atuado com a irmã de Sirlange Maganhato para realizar a triangulação dos valores, repassando quantias por meio de contratos simulados e empresas de fachada. A PF aponta indícios de lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa, tanto por parte de Marcos Mott quanto de membros do núcleo familiar do prefeito.
Comissão arquivada na Câmara
O pedido inicial de cassação de Manga foi apresentado por José Crespo à Câmara Municipal, mas acabou sendo arquivado por maioria de votos dos vereadores, muitos deles aliados ao prefeito. A negativa gerou críticas nas redes sociais e protestos populares pedindo apuração dos fatos.
Veja os votos dos vereadores
Não, para que o prefeito não fosse investigado:
- Caio Oliveira (Republicanos)
- João Donizete (União Brasil)
- Fausto Peres (Podemos)
- Fabio Simoa (Republicanos)
- Silvano Jr (Republicanos)
- Rafael Militão (Republicanos)
- Cristiano Passos (Republicanos)
- Toninho Corredor (Agir)
- Claudio Sorocaba (PSD)
- Pastor Luis Santos (Republicanos)
- Jussara Fernandes (Republicanos)
- Cícero João (Agir)
- Rogério Marques Munhoz (Agir)
- Alexandre da Horta (Solidariedade)
- Rodolfo Ganem (Podemos)
- Fernando Dini (PP)
- Italo Moreira (União Brasil)
- Henri Arida (MDB)
Sim, para que o prefeito fosse investigado:
- Raul Marcelo (PSOL)
- Izidio (PT)
- Iara Bernardi (PT)
- Dylan Dantas (PL)
- Roberto Freitas (PL)
- Fernanda Garcia (PSOL)
- Tatiane Costa (PL)
Com o arquivamento legislativo, Crespo adaptou o documento e levou o caso à Justiça, buscando judicializar o processo e impedir o que chamou de “blindagem política de Manga por interesses escusos”.
Próximos passos
Com a tramitação do processo judicial iniciada, caberá à Vara da Fazenda Pública de Sorocaba analisar o pedido liminar de afastamento de Rodrigo Manga. Caso a medida seja concedida, Fernando poderá assumir a chefia do Executivo de forma interina.
O Ministério Público já recebeu cópia integral da ação e deverá se manifestar nos próximos dias. A Polícia Federal também confirmou que as investigações seguem em andamento, com novas oitivas previstas.