HomeDestaquesO Autoritarismo não usa farda, usa toga e narrativas de golpe

O Autoritarismo não usa farda, usa toga e narrativas de golpe

por: Rafael Sarti

A história tem um estranho hábito de se repetir — e, quase sempre, começa com a distorção da verdade e o controle das narrativas. O que se viu em regimes autoritários como o nazismo de Adolf Hitler, com o incêndio do Reichstag em 1933 usado como pretexto para perseguir opositores e sufocar liberdades civis, hoje encontra eco, perigosamente, no Brasil. O episódio do 8 de janeiro de 2023, tratado como uma tentativa de golpe, tem servido como instrumento político de repressão seletiva, punição ideológica e deturpação da realidade.

Hoje, o ex-presidente Jair Bolsonaro teve uma tornozeleira eletrônica imposta, acusado de liderar uma tentativa de golpe — mesmo sem estar no país no dia dos acontecimentos e, mais importante, sem que o golpe sequer tenha ocorrido. Ele era presidente em 2022. Se desejasse aplicar um golpe, tinha o poder institucional para isso. Não o fez. O que vemos, então, é a condenação por intenções, por pensamentos, por especulações — algo que, na legislação brasileira, não se configura como crime se não houver execução. A Constituição não pune desejos, mas atos. Ou punia?

Enquanto isso, a raiz da indignação popular foi convenientemente esquecida pela mídia e pelos tribunais: a candidatura de um homem condenado por corrupção em duas instâncias — algo explicitamente vetado pela Lei da Ficha Limpa — foi reabilitada por um Supremo Tribunal Federal que mais parece atuar como um quarto poder, ou pior, como um partido político com superpoderes.

Milhares de brasileiros protestaram contra esse verdadeiro “golpe institucional”, com senhoras, senhores, jovens e famílias reunidos em oração, com bandeiras e bíblias, buscando apenas que a lei fosse respeitada. E o que receberam? Prisão, censura e perseguição. Uma mulher foi presa por escrever com batom em uma estátua. Uma ameaça à democracia? Ou um ato simbólico de desespero diante de um sistema que perdeu a vergonha de rasgar a Constituição em praça pública?

A fala de um dos ministros do STF — “Perdeu, mané” — ecoa como um escárnio à civilidade. Como confiar em instituições que debocham de quem discorda delas? Que criminalizam a crítica e silenciam jornalistas, padres, influenciadores e parlamentares com censura prévia, ordens sigilosas e bloqueios financeiros arbitrários?

A grande mídia, cúmplice e submissa, abandona qualquer traço de isenção. Jornalistas que outrora atacavam as supostas arbitrariedades de Bolsonaro, hoje se calam, ou pior, defendem os abusos do Judiciário como se fossem atos heroicos. Uma inversão completa dos valores democráticos.

Voltando à Alemanha dos anos 30, Hitler não precisou de tanques para tomar o poder absoluto. Bastaram um inimigo inventado, um evento trágico bem explorado e o apoio cego da mídia e da elite intelectual. Hoje no Brasil, o STF, blindado e inquestionável, segue o mesmo caminho. E o povo? De novo, tratado como mané.

Estamos diante de um regime onde a Constituição é maleável ao gosto de seus intérpretes, onde eleições são legitimadas pela conveniência, e onde quem ousa resistir é rotulado de golpista, fascista ou criminoso.

Se o Brasil não acordar, se não formos capazes de enxergar os sinais, o autoritarismo virá não mais com fuzis, mas com canetas, canetadas e narrativas bem elaboradas.

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